CBN Tocantins
HOMENAGEM | 15 de Agosto de 2020
Texto de Tião Pinheiro homenageia vítimas fatais da Covid-19 no Tocantins
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Na Edição Especial do CBN Tocantins deste sábado,15, o ouvinte conferiu um texto do editor-chefe do Jornal Daqui e do site do Jornal do Tocantins e coordenador da CBN Tocantins, Tião Pinheiro, com narração do coordenador de Jornalismo da TV Anhanguera, Adriano Fonseca, em homenagem às vítimas fatais da Covid-19 no Estado. A homenagem foi veiculada inicialmente nesta sexta-feira no Jornal Anhanguera 2ª Edição. Ouça!

Muito além da frieza dos números

Tião Pinheiro

Jornalista, escritor e compositor

Não se trata apenas da frieza dos números.

São mentes e corações bombardeados por um inimigo invisível a colocar em desordem uma normalidade cartesiana. E os dias nunca mais foram os mesmos.

Não se trata apenas da precisão das estatísticas.

São pessoas e situações atingidos por uma arma silenciosa a nos tirar de uma zona de conforto. E as noites jamais foram as mesmas.

Não se trata apenas da banalização do caos.

São lares e lugares alcançados por um fantasma avassalador a nos fazer reféns. Pesadelos, e os sonhos agora são outros.

Da surpreendente partida da assistente social Francisca Romana Chaves no vigor dos seus 47 anos deixando órfãos uma filha, amigos e colegas, ao clamor da técnica em enfermagem Edilma da Silva Goulart, que anteviu o fim ao balbuciar à filha: “Eu vou morrer, Luana!”. E partiu sem conseguir esperar o tardio socorro ante a revolta e tristeza dos seus.

Desde aquele fatídico 14 de abril do primeiro adeus fora do combinado, mais que os crescentes números, as fúnebres estatísticas e o estado de calamidade que entre nós se instalou, são cenas e situações em que o desespero, a dor e a impotência nos invadem e nos desolam.

Um vírus tomou o mundo de assalto e, entre medos e sobressaltos, vidas são interrompidas, dores sentidas, desilusões estampadas e a incerteza do que ainda virá a nos inquietar, a nos aquietar.

Em todos os cantos, um adeus, um choro e uma incompreensão sobre tudo isso.

Por aqui, o luto em todo lugar, município a município, e sequer se consegue se despedir dos seus, dar um último abraço.

O primeiro registro e a surpresa, planos interrompidos.

O décimo registro e o espanto, lares desfalcados.

O centésimo registro e a revolta, ninhos desfeitos.

O meio milhar de registros e o desespero, vidas sendo levadas e aquela saudade precoce tomando conta de pais, filhos, esposos e esposas, amigos, colegas...

São centenas de vazios, são centenas de despedidas e são centenas de projetos não concretizados, de abraços e beijos não dados e de presenças suprimidas.

Mais que a frieza dos números, a precisão das estatísticas e a banalização do caos, estamos falando de sentimentos, de gente, de vidas...

E aqui, numa espécie de roleta russa sobre quem fica e quem parte, ficamos a chorar por quem parte e a nos moldar em novas práticas, novas atitudes e a nos cicatrizar na dor, a nos consolar na saudade e mais que antes, a nos reinventar também no amor.

Que nos agarremos a ainda possível e teimosa esperança de renasceres!

 

 

 

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